quinta-feira, 6 de março de 2014

Partiu!


Sem contar, ou já com hora mais ou menos prevista, sai disparado o aviso em sinal intermitente: partiu!
Assim sai também como um disparo do coração, uma espécie de tranquilidade ou de ao mesmo tempo de sentimento de perda, um vazio como se já não houvesse nada a fazer, como se algo de tão bom se tivesse perdido por entre os dedos, assim, num abrir e fechar de olhos!
Ao beijo rápido que preferia ter trocado pelo abraço, mas haveria certamente o risco de te pedir para ficar e a partida ia doer mais,  fica a sensação que partes cedo demais ou que daria tudo para não voltar a sentir o travo amargo da despedida. Desta forma, já pouco adianta olhar pelo lado de cá do vidro que nos separa e nos torna, de forma rápida, tão longe mesmo ainda tão perto.
Espero mais um pouco e, depois deste sinal, resta-me virar costas ao lugar que já não tem mais nada para me dar nos próximos tempos, com alguma pressa confesso, não vá escorregar alguma lágrima teimosa que não queira que vejas.
Aquele lugar de partidas e chegadas que tão depressa me faz sorrir como me faz chorar, tão depressa me faz desejar partir como chegar, tão depressa me faz querer que chegues, como que não vás nunca mais, só para não ter que voltar a sentir aquele aperto da despedida e a incerteza do amanhã.
 Trago na memória que é aquele lugar, que me vai fazer contar histórias, umas outras tantas como fez até hoje, que vai mexendo e me vai embalando tão bem e o qual não consigo deixar de me encostar.
Irrequieta diria, é assim que fico, cada vez para lá vou e que por lá ando à espera de buscar algo, mesmo quando vou deixar.
Assim deixo este lugar que desde sempre faz parte o partir e o chegar e que nunca saberei ao certo que coisas lá vou encontrar!

quarta-feira, 5 de março de 2014

Ficas e não sabes!

É meia-noite e vinte e cinco e apareceste!
Mais uma vez, sem avisar tal e qual como fizeste das outras vezes, entraste sem bater à porta, sem pedir permissão e ficaste como se já te sentisses em casa e quando menos esperei viraste costas e foste!
Mergulhada na saudade, enternecida pelas memórias que ficaram guardadas no baú da razão ou talvez seja mais do coração, assim mesmo lá de longe consegues fazer com que largue um sorriso. Aquele sorriso de felicidade de quem teve a sorte de partilhar momentos tão especiais e que mesmo tendo-te longe, ainda consegues voltar sempre que queiras, sem ser preciso um aviso prévio, uma permissão para entrar e tempo para ficar, porque tu já fazes parte e tomarás o tempo que quiseres, porque mesmo de longe continuas aqui. E no fundo se reparares bem, tu nunca chegas realmente a partir! 

terça-feira, 4 de março de 2014

Ao que vou não sei, sei que vou!

Saio porta fora e no fundo nunca sei ao que vou, sei apenas que vou. Vou com uma ideia na mente, um propósito no coração e quando chego sinto que tudo mudou.
Quando chego apercebo-me que o que vou trazer é muito mais do que o que levo.
Faço, por vezes, um desvio no meu de caminho, ou apenas percebo que o que parecia não é e ainda bem que não!
  Entrego-me à surpresa que me é reservada e deixo-me ficar sentada no baloiço que gentilmente me convidaram a sentar.
Nisto passa lentamente, ao meu lado, um estranho de voz enrouquecida e que de forma  delicada me convida ouvir as histórias dos seus escritos, numa voz desgastada pelo tempo e que  guarda o cansaço de uma vida trazida de um vai vem de recordações. Desatentamente aceitei o convite e acompanhei-o nas viagens feitas, que contava nas entrelinhas dos desabafos que o fazia acreditar que a idade não é entrave quando se quer muito algo e que a solidão, que por vezes sentia, essa era apenas por opção. Descreve-a com coragem de quem contraria o que no fundo sente e nisto balanço suavemente para trás e para a frente, neste baloiço que me foi dado e deixo-me ficar na descodificação de informação levada ora à razão, ora ao coração. Entre uma e outra tentativa tentava perceber com quem falava, mas acabei por me deixar levar apenas pelas palavras que soltava, no compasso da impaciência pela  chegada do escritor esperado.
Sorrio e percebo que o sentido não estava no propósito inicial, quando fui aquele lugar, mas sim no que esse propósito me estava a conduzir.
Ao propósito inicial percebo que o que lá fui fazer foi muito mais do que aquilo que contava. A ideia que trago é outra, o propósito tornou-se em realização e quando continuo o caminho, percebo que nada é por acaso e que quando saio não sei ao que vou, mas sei que vou!